quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Culpa e Vaidade


Mulher, por mais que tenha conquistado sua independência, seja dona de seu dinheiro e de seu nariz, está sempre com a cabeça em alguma coisa que a deixe bem culpada.
A primeira e mais elementar: os filhos. Não adianta eles estarem na mais maravilhosa creche, com a mais fantástica babá, nos braços da avó mais carinhosa, cuidados pelo amor do pai ou até casados, com filhos e a vida organizada. Mãe está sempre ligada; ligada e culpada.
Existem as que não têm filhos e que, mesmo concentradas no trabalho, se lembram de que a geladeira está vazia, que há duas semanas não telefonam para a mãe, que é preciso mandar fazer a bainha daquela saia e ir ao dermatologista - e a culpa continua.
Na cabeça de um homem , essas coisas não passam - não quando eles estão trabalhando ou vendo um jogo de futebol pela TV. Eles conseguem se desligar e pensar só no que estão fazendo. As mulheres são diferentes.
Na vida profissional, por exemplo: os homens chegam tarde do escritório, trabalham no fim de semana, viajam pelo tempo que for preciso bem tranquilos, porque sabem que a retaguarda em casa está coberta. Mesmo que às vezes fiquem um pouco impacientes, elas esperam; esperam e aproveitam para fazer um monte de coisas que, com um homem do lado, vão sempre ficando para depois. Emagrecer, por exemplo - não dá para fazer dieta com um homem por perto, ou relaxar o corpo e o espírito quando eles estão por ali, ocupando nossos corações e nossas mentes. Agora, dê o nome de dez grandes mulheres que tenham um marido que faça isso por elas. Não lembra? Tudo bem, então cinco. Também não lembrou? Não faz mal, a gente já sabia.
Mas, tem uma hora em que a mulher consegue, sim, se esquecer de tudo : é quando vai se preparar para um encontro daqueles. Começando pelo banho, que leva horas. Depois, ainda enrolada na toalha, ela se permite ficar uns 20 minutos relaxando - e ai da empregada que se atrever, nessa hora, a pedir dinheiro para comprar produtos de limpeza. Daí em diante. é uma lua-de-mel com ela mesma. Você já reparou alguma vez em uma mulher calçando meias, sem pressa? Ela acaricia as próprias pernas, certa de que são iguais às de Cyd Charisse * . Depois vêm os sapatos - de saltos altos, claro - e aquela leve olhada no espelho para sentir o conjunto. Fica satisfeita e começa a botar a base, pintar os olhos, sem pensar em nada mais na vida, a não ser em ficar o mais linda possível. Aliás, toda mulher deve se pintar de meias e sapato alto: faz bem à moral.
Tudo é feito com o maior cuidado, e depois do toque final - o rímel -, é hora de separar as pestanas com um alfinete de ponta bem fina, para desgrudar uma da outra. Ah, é perigoso, pois pode machucar o olho? Claro que não: Deus sempre protege uma mulher que está se preparando para aquele encontro. Aí é a hora de cuidar dos cabelos, e a força e determinação com que ela maneja a escova são de dar medo a qualquer campeão de artes marciais. Depois, é se vestir - o vestido está escolhido há semanas -, se olhar várias vezes no espelho, arrumar a bolsa e escolher os brincos. Tente disfarçadamente observar uma mulher quando ela estiver diante do espelho dando o toque final, isto é, botando os brincos. É uma bobagem? É, mas é verdade: ela se examina uma última vez, e nessa hora se sente absolutamente segura, pronta para o que der e vier. Usando as palavras certas: prontas para o combate, e capaz de tudo pela vitória.
* Cyd Charisse é atriz e dançarina de musicais dos anos 40 e 50, parceira de astros como Gene Kelly, com quem estrelou " Cantando na Chuva" (1952).
Danuza Leão